quinta-feira, novembro 12, 2009

Cobranças difíceis

Não sou de ódios e, parafraseando a minha querida Diana Ralha, sou boa pessoa. Confesso que há coisas que me tiram do sério, mas esqueço-as quase à mesma velocidade do quanto me afectam na altura. Em tempos, e se calhar até é isso que estou a fazer neste preciso momento, ficava a remoer nos assuntos, como quando amigos me dizem que foram os últimos a ligar, portanto que ficam à espera que o próximo telefonema seja meu; ou como quando me dizem que estou estranha e distante, quando sou eu que convido e não recebo resposta ou apareço e ninguém retribui a visita. Enfim… são assim alguns dos meus amigos. Os outros ficam felizes mesmo quando depois de anos sem falarmos pessoalmente, ou sequer ao telefone, bastando dar sinais de que estamos vivos mandando e-mails estúpidos, há um telefonema a saber das novidades. Acho que já aprendi a respeitar o espaço dos outros e a “perdoar”, portanto se querem saber de mim ou se acham que não digo nada há muito tempo façam o favor de me ligar, ao invés de me julgarem ou criticar. Tenho dito!

domingo, maio 17, 2009

Importa-se de repetir?

- Já reparou que faz umas caretas com a boca que não ficam bem na televisão?
- Já me chamaram a atenção. A própria SÁBADO chamou a atenção para isso de forma muito impressiva. São expressões menos felizes que procurarei corrigir.

Extraído da entrevista de Pedro Passos Coelho à Sábado de 15 de Maio.

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Adeus

Estava um dia solarengo, como tantos outros, e decidimos ir fazer um piquenique às Ribeiradas. A menina Luzinha foi tomar conta de nós. Corremos, subimos a árvores, saltámos o rio e parámos para comer uma sandes de fiambre e beber um Trinaranjus de maçã. Numa outra ocasião em que só o sítio mudou, partilhámos a garrafa do sumo e foi assim que apanhei herpes pela primeira vez. Mas dessa vez, nas Ribeiradas, provavelmente nos dias antes terá chovido, havia umas quantas poças de água, que davam mais a sensação de serem pequenos poços do que outra coisa menos profunda. E eu, que já na altura tinha os meus laivos de maldade, zangada porque me tinhas dito qualquer coisa que não gostei, empurrei-te para dentro de um desses pequenos poços. Escusado será dizer que a menina Luzinha foi a correr puxar-te, que ficaram as duas cheias de lama e erva e que fomos recambiadas para casa.
Esta é apenas uma das histórias que mantenho mais viva da nossa infância, mas há tantas outras, como as sessões de filmes do Hitchcock a que assistíamos à sexta à noite, antes dos meus pais me irem buscar; as cartas de amor que escrevemos quando andávamos na 1ª classe e que ainda hoje a tua mãe guarda religiosamente; aquela outra vez em que também me zanguei contigo e saí atirando-te com as fitas da porta à cara, deixando marca; as peripécias já no secundário, como aquela vez que a Leonor caiu e eu só me preocupei porque ela levava a minha pasta dos trabalhos de Educação Visual na mão; as idas à praia no fim-de-semana; a tua irmã que hoje está uma mulher e pouca diferença se nota entre nós, e que na altura era quase como uma boneca para nós; o teu e o meu casamento.
E ontem, com a mesmíssima idade do meu pai, o teu morreu. E é nestas alturas, que nunca se sabe o que dizer, que dou por mim a reviver todas estas histórias e a pensar no quanto as nossas vidas tomaram rumos tão diferentes, mas que ainda assim nos une a amizade que nos permitiu crescer juntas e ter tantas histórias para contar aos filhos.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Reparos

O despertador tocou uma, duas e três vezes. Esta é a vantagem de quem tem a mania de chegar sempre antes de todos. Mas hoje não me apetecia. À medida que a semana chega ao fim, também a vontade de me levantar da cama diminui. De manhã não li, mas ainda encontrei consolo na música. Agora nem isso me apetece. Ao longo da viagem mantenho todos os sentidos em alerta. Reparo no miúdo com ar de rufia que anda de luva, ainda que de lã, e bola de basebol na mão. Na mulher que acabou de vir do cabeleireiro e que agora retoca os lábios com um rosa mortiço. No homem magro, magro, que veste todo de ganga, sendo as calças à boca-de-sino. No casal de amigos, eventualmente tornar-se-ão namorados, que seguem em direcções opostas. Nos dois cegos que se cruzam enquanto pedem esmola. Na rapariga que usa uma camisola polar e chinelos. No grupo de homens que trocam receitas de folhados de salsicha e comentam que o mel combina com tudo. Na velhota que atende o telemóvel e comenta que se esqueceu de sair na paragem certa. No doido que percorre o apeadeiro a chamar a atenção dos mais incautos para não pisarem a linha amarela. Na máquina de pipocas que me faz ficar sempre tentada. Na senhora que vai a mascar pastilha elástica de boca aberta. No jovem militar de olhos lacrimejantes. Nos avós que devem ter ido passear com a neta e agora regressam a casa. E em mim, quantas pessoas estarão a reparar?

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Já dizia Gabriel García Márquez

«... e nada para os pobres, claro, porque esses hão-de estar sempre fodidos que no dia em que a merda tiver algum valor os pobres hão-de nascer sem cu...»
in O Outono do Patriarca

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Não sei falar de amor

Podia dizer que não me lembro da última vez que aqui escrevi, mas a data ali em baixo diz-me quando foi. No entanto, posso dizer que me parece que foi à uma eternidade.
Desde Outubro, aliás, desde Agosto, do ano passado que a minha vida mudou. No espaço de um ano engravidei, fui despedida, fui readmitida, fui deixada ao abandono, sozinha numa sala, durante cinco meses, a minha filha nasceu e troquei de emprego. Parece que nada de extraordinário aconteceu, mas a verdade é que o meu baralhar e dar de novo, agarrando na expressão de um querido amigo, é quase diário e quando acho que finalmente as coisas se começam a encaminhar, lá surge uma nova carta inesperada na manga que me faz repensar todo o jogo.
Na altura em que escrevo estas palavras ainda o faço com o sentimento de derrota, de alguém que apostou tudo o que tinha e perdeu. Ok, estou a dramatizar um pouco e o que aos meus olhos parece um dramalhão até pode ser encarado como um problema de gestão rotineiro. Sinto que ao longo dos últimos anos tenho aprendido muito e cresci ainda mais, pessoal e profissionalmente, mas às vezes ainda sinto que me estão a tirar o tapete de debaixo dos pés e nem mesmo o salto das botas de matar baratas no canto da sala - ou à saída de concertos na Torre de Belém - o consegue manter no lugar. E é nestas alturas que nasce mais um cabelo branco, aparece mais uma ruga e começa uma nova dor de barriga. É também nestas alturas que penso, ainda que por um nanosegundo, mais valia ser funcionária pública. Mas depois apanho vento na mona, escrevo, falo e tudo acaba por se compor. Pelo menos assim o espero...

http://www.deolinda.com.pt/
Entrar e ouvir o tema que dá título ao post