segunda-feira, abril 23, 2007

A ti Pança e a ti Maria Gorda

Depois de três meses de sofrimento, entre estados raros de lucidez e muitos de inconsciência, o coração da ti Pança resolveu, mesmo com a ajuda das máquinas, parar de trabalhar. O mesmo já havia acontecido com a ti Maria Gorda, sua cunhada e minha avó. A alcunha pela qual eram conhecidas, e que ainda hoje persiste naqueles cujos corações são mais resistentes e que volta e meia ainda ouço quando passo na Rua 1.º de Maio, não tinha o carácter depreciativo a que hoje estamos habituados. Sim, eram robustas. Mas não me parece que a explicação venha daí. Aliás, não faço a mais pequena ideia de onde venha. O verdadeiro nome da ti Pança nem o conheço. E é nestas alturas, em que se fecha mais um ciclo, que repensamos no que já passou e naqueles que já partiram. Ontem à noite questionava-me mentalmente se havia de ir ao funeral. Para além de ser a última tia-avó que tinha do lado do meu avô, a ti Pança é mãe de umas primas que adoramos e era avó do primo que nos deu o prazer de sermos padrinhos do seu filho. Mas depois penso, em três meses de internamento, não fui vê-la nem uma vez. Mesmo enquanto estava em casa das filhas, minhas vizinhas, só a via quando ela estava na rua a apanhar Sol. Queria ir ao cemitério falar com a ti Maria Gorda, mas isso posso fazer sempre que me apetecer, porque sei que ela me ouve. Queria sair daqui porque acaba por ser o escape mais fácil. Mas, tal como não vou à missa pelas pessoas que me possam lá ver e ficar agradadas com o gesto, não vou a um funeral de uma pessoa que não estimei assim tanto em vida e que seria só para alguém ver. Ao invés disso fico aqui. Com a certeza, porém, de que esta vida passa realmente depressa e que temos de cuidar daqueles que amamos.


1 comentário:

Anónimo disse...

sem dúvida!
:)*