terça-feira, fevereiro 26, 2008

À beira de um precipício só há uma maneira de andar para frente: é dar um passo atrás*

Quando era miúda, e até há relativamente pouco tempo, e ouvia os meus pais falarem das vantagens/desvantagens de se ter um negócio próprio ou trabalhar por conta de outrem, estar efectivo numa empresa era o objectivo da maior parte da classe trabalhadora, como que um sonho de vida que nos dava a segurança e garantia que teríamos dinheiro ao fim do mês para pagar a renda da casa, a água, a luz, o gás e o telefone. Hoje em dia, ter emprego é uma sorte. Ainda a faculdade não estava acabada e já eu tinha dois empregos, acabando posteriormente por optar por um só. Ao longo de quatro anos trabalhei numa empresa onde sempre me fizeram contratos de seis meses, renováveis no máximo por mais duas vezes, mas, se fizermos as contas, poderia estar assim até perfazer um ano e meio e não os quatro anos. Ou seja, entre contratos com empresas cujo capital era detido pela empresa-mãe, contratos com empresas de trabalho temporário e outros do género, lá se passaram os tais quatro anos. E para quê? Para alimentar a esperança de que um dia tudo seria diferente. Actualmente, estou há mais de dois anos a trabalhar a recibos verdes numa casa onde não há reconhecimento e, pior que tudo o resto, não há comunicação. Um dos meus melhores amigos está há mais de um ano sem emprego. Uma das minhas melhores amigas, só este ano, já trocou de emprego duas vezes, sempre em busca de algo melhor. Em tempos, tive três estagiárias que ainda hoje, passados quase dois anos, continuam sem emprego.
Agora leio uma notícia que diz que a ‘Estradas de Portugal abriu programa de incentivos para trabalhadores saírem da empresa’. E ainda ontem vi dados que davam conta que existem 112 idosos por cada 100 jovens. Alguém me consegue dizer para onde estamos a ir?

* frase de Michel de Montaigne

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