quarta-feira, julho 18, 2007

Joana dos cabelos verdes

Resolvi, aliás obriguei-me, impus a mim própria, que tinha de retomar as leituras assíduas. Com tantos livros por ler não me posso cingir às leituras nos corredores de hospitais à espera de mais uma consulta. Com as cartas de amor do Lobo Antunes a serem lidas há mais de um ano e A Fórmula de Deus, do Rodrigues dos Santos, há bem menos, resolvi que estava na altura do Peixoto e do livro de contos que a revista Sábado publicou. Inéditos, diziam eles, mas no fim do livro venho a saber que os mesmos já haviam sido editados no Jornal de Letras. Agora, foram apenas revistos. Valha-nos então a revisão que não deixou escapar um único erro.

“Gosto de dizer que sim. Dizer que sim é querer resolver problemas, é seguir em frente, é lançar-se sem medo, rejeitar as amarras de auto-preservação. Sim, gosto de fazer planos e projectos, gosto de imaginá-los concretizados. Não gosto de dizer que não. As pessoas que dizem não desagradam-me desde os meus primeiros instintos.”

Este é um excerto do conto da Joana dos cabelos verdes, mas podia muito bem ser uma conversa entre mim e a Joana dos cabelos brancos. Sempre fui assim e ela sempre tentou mostrar-me que há alturas em que temos, obrigatoriamente ou tão simplesmente por uma questão de sanidade mental, de dizer não.

A Joana dos cabelos verdes é também aquela amiga/conhecida que em determinado momento fez parte da nossa vida mas que com o passar do tempo desapareceu. Até ao dia em que a encontramos no metro, à hora de almoço no centro comercial, no café onde raramente tomamos o pequeno-almoço, naquele evento em que estamos a trabalhar e não nos apetece fazer conversa de circunstância. Até ao dia em que tomamos consciência de que não seria o tempo de trocarmos umas breves palavras que faria diferença e nos arrependemos de ter deixado passar o momento.

Sem comentários: