quarta-feira, março 05, 2008

Estação do Pinhão vira museu

Ao ler esta notícia no jornal Meia Hora é inevitável lembrar a última vez que por ali passei. Dois anos depois de termos pernoitado na zona, em plena encosta do Douro, num sítio onde o nevoeiro matinal se misturava com as nuvens e não nos deixava ver a terra que acordava lá em baixo, transportando-nos como que para um sonho, regressámos ao café mesmo em frente à estação do comboio. Vinho do Porto caseiro, era essa a nossa busca, mas uma visita pela estação para tentar descobrir como fazer os tradicionais passeios pelo rio levou-nos à conversa com um velhote que dizia trocar todas as suas terras pela nossa idade e jovialidade. Entre dois dedos de conversa, que acabaram por ser muitos mais, ficámos a saber quase toda a história da sua vida. Um velhote que, claramente, passa os dias na estação à espera dos amigos do dia-a-dia ou dos turistas com quem aproveita para meter conversa. É dos sentimentos que mais me assustam, mais até que a morte. Viver uma vida em função dos outros e do trabalho, sempre em busca de algo que nos preencha os dias ou que nos permita ter aquele estatuto ou aquela profissão que sempre sonhámos, para depois passarmos a velhice sem ninguém com quem conversar ou, simplesmente, ficar em silêncio a recordar memórias de outros tempos. Ficámos ainda a saber que um dos painéis de azulejos da estação tem a particularidade de ter um azulejo colocado de pernas para o ar, mas só mesmo quem lá vive e vive das histórias com que poderá “roubar” o tempo e a atenção de quem por lá passa é que pode saber estas histórias que acabam por se perder no tempo, algo que todos os dias pedimos para esticar e quando chegamos a velhos só queremos que passe depressa.

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