quinta-feira, março 29, 2007

Desde que eu esteja bem, tudo está bem

Começar e acabar o dia e retomar um novo dia que se quer mais calmo com acidentes automóveis é dose. Podia contar-vos do da manhã de ontem, em que um senhor de mota foi abalroado por um carro e que eu ainda estava lá, mesmo na fila da frente, quando chegou a sua mulher, ou do desta manhã que ainda por cima envolveu um amigo, mas que não passou de riscos e chapa, mas prefiro falar do insólito saído de um filme rodado a alta velocidade numa daquelas estradas infinitas dos EUA. Depois de ter desmarcado o maravilhoso curso de maquilhagem que resolvi frequentar, de ter levado um colega a casa e me ter perdido no regresso ao meu habitual caminho, pouco faltava para as 10h da noite e, portanto, o humor estava à beira de um ataque de nervos. À minha frente, e lá estava eu novamente na primeira fila, ia um Citroen cinzento. O tardar da hora fez com que fossemos, calma e seguramente, a mais de 100km/h, que é para não dizer que íamos a desrespeitar os limites da lei. Lembro-me que o senhor do Citroen tinha um blusão de penas, daqueles que me habituei a ver nos colegas de liceu, caracóis e conseguia manter o cigarro, já a chegar ao filtro, tremulamente entre os dedos, enquanto se lamentava pelos azares dos últimos dias. Hoje foi a vez de se levantar o capot em pleno andamento. A cena parecia mesmo saída de um filme, só que aqui conseguiu-se evitar o pior. Ninguém se magoou e todos os travões responderam positivamente à chamada. Mas é nestas alturas que eu vejo que as pessoas continuam a ser muito pouco sensíveis aos outros. Toda a gente, passado aquele momento inicial em que estava iminente um choque em cadeia, ligou os quatro piscas e, imediatamente, fez marcha-atrás e seguiu o seu caminho como se nada fosse. Então e aquele desgraçado que apanhou o susto da sua vida, mas mesmo assim manteve o discernimento e conseguiu controlar o carro sem chocar com ninguém? Serei só eu que acho que nestas alturas nem que seja apenas uma palavra de apoio vinda de um perfeito estranho pode ajudar a acalmar? E lá fui eu, do alto das minhas botinhas de salto alto, à lá gato das botas, pôr-me à conversa com o senhor a tentar acordá-lo daquele estado antes que mais alguma desgraça acontecesse. Os outros? Seguiram rumo a casa e às suas vidinhas, passadas a correr entre as viagens de casa para o trabalho, do trabalho para casa com paragem no supermercado, sem sequer pestanejarem na hora em que alguém pode precisar apenas de uma palavra, que em última análise não custa nada!

2 comentários:

Anónimo disse...

E senhor, após o susto, ganhou o dia! :)

Eu disse...

A indiferença das pessoas perturba-me, confesso. Claro que depois tenho episódios menos brilhantes quando estou a tentar ajudar janados que andam ao soco.... mas isso são só pormenores sem qualquer importância. C'est la vie.